segunda-feira, 11 de julho de 2016

EM DEFESA DA TEOLOGIA


Muitos cristãos evangélicos pensam que a teologia é um instrumento de destruição da fé. E os seminários teológicos para muitos virou lugar de desencanto, morte da fé e cria de inimigos da igreja local. Mas, será que em toda a história de teologia sempre foi assim? O que houve do tempo dos "pais da igreja" ou dos reformadores até os nossos dias para que a reputação da teologia estivesse tão em baixa? Quem já não ouviu a frase: "cuidado irmão, a letra mata viu!". Eu já escutei um seminarista me dizer: "rapaz, depois daquela aula de teologia, me deu vontade de ir num bar encher a cara". Infelizmente, para muitos pertencentes à igreja de Jesus "teologia" tornou-se um termo pejorativo. E o teólogo, é assemelhado aos "fariseus", "escribas" e "doutores da lei" do tempo de Jesus reprovados fortemente por ele em Mateus 23. Todavia, ninguém se lembra de José de Arimatéia, membro do Sinédrio e nem do apóstolo Paulo, o fariseu. Autor da metade dos volumes do Novo Testamento. Esdras, que era sacerdote e escriba, não foi do tempo de Jesus, mas é um referencial de fé e piedade para nós. Esquecemos-nos que foram os escribas que nos deixaram o legado do Antigo Testamento em nossas mãos (60% da Bíblia Cristã); o que eram os copistas do Novo Testamento senão pessoas que faziam um serviço semelhante ao dos escribas? O que fazem as editoras e as casas publicadoras hoje senão o antigo serviço artesanal dos escribas? São milhões de produções da Bíblia em vários idiomas. De certo modo, somos todos escribas, pois temos acesso a Bíblia, nós carregamos a Bíblia e reproduzimos cópias dela por todo o mundo. Pois é, estamos diante de uma problemática que precisa ser esclarecida ao público cristão evangélico e demais grupos  religiosos interessados no assunto.

E para esta tarefa tão complicada de resgatar a simpatia para teologia novamente, preciso estabelecer alguns questionamentos para que possamos nos orientar:


1) A TEOLOGIA SEMPRE FOI ASSIM?
Óbvio que não, a teologia nem sempre foi assim. Antes do advento do iluminismo, advento que influenciou e influencia demais muitos teólogos. A teologia era tida como a "a rainha das ciências". Entretanto, os tempos dourados foram embora e a teologia foi se transformando em uma voz do iluminismo, racionalismo e ateísmo disfarçado dentro das salas de aulas, púlpitos e textos produzidos. Infelizmente o que temos hoje de teologia é produto de uma época em que deveria ser esquecida. Entretanto, voltando do século 19 até ao 16 e nos quatro primeiros séculos d.C., encontramos um tempo bom da teologia, onde os absolutos não eram questionados, onde a fé era inspirada, onde a Bíblia era vista como inerrante Palavra de Deus, os vocacionados impulsionados pela força da mensagem cristã ortodoxa e reformada.

Poderíamos citar vários nomes aqui de personagens históricos da igreja que foram excelentes cristãos, homens piedosos, de fé, cuja teologia e o interesse pelos livros não os prejudicavam na vida espiritual. Vejamos apenas alguns exemplos:

John Wesley (1703 a 1791), dele se diz: "... Leu não menos de 1.200 tomos [volumes de obra impressa], a maior parte enquanto andava a cavalo. Escreveu uma gramática hebraica, outra de latim, e ainda outras de francês e inglês. Serviu durante muitos anos como redator dum jornal de 56 páginas. O dicionário completo que compilou da língua inglesa era muito popular, e seu comentário sobre o Novo Testamento ainda tem grande circulação. Revisou e republicou uma biblioteca de cinquenta volumes, reduzindo-a para trinta volumes. O livro que escreveu sobre a filosofia natural teve grande aceitação entre o ministério. Compilou uma obra de quatro volumes sobre a história da Igreja. Escreveu e publicou um livro sobre a história de Roma e outro sobre a da Inglaterra. Preparou e publicou três volumes sobre medicina e seis sobre música para os cultos. Depois de uma experiência em Fetter Lane, ele e seu irmão Carlos, escreveram e publicaram 54 hinários. Diz-se que ao todo escreveu mais de 230 livros". (1).

Ainda sobre John Wesley, quando jovem, encontramos o relato histórico sobre o famoso “clube santo”. Onde neste relato podemos constatar que é possível sim unir o estudo da Palavra de Deus com a oração. E o testemunho histórico deixa evidente que os resultados disso são espetaculares. Vejamos:

No ano de 1729, ao entrar para a Universidade de Oxford, Inglaterra, John Wesley, seu irmão Charles e mais alguns amigos não se deixaram contaminar por essa cultura de esfriamento espiritual e imoralidade. Em resposta a esse cenário que alcançava a maioria dos estudantes, passaram a reunir regularmente para orarem, lerem a Bíblia e a estudarem. Assim faziam de três a quatro vezes por semana. A intenção era buscar a santidade bíblica, tema esse que mais tarde viria a ser essencial nos sermões de John Wesley. Durante as reuniões eles oravam uns pelos outros e, fervorosamente, clamavam a Deus por eles e pela sociedade. O estudo bíblico era constante, e colocavam em prática aquilo que entendiam como revelação de Deus através da Sua Palavra. Esses momentos de oração e busca por santidade fizeram com que esse grupo de amigos, irmãos em Cristo, se sentissem despertados a testemunhar do amor de Deus em todo tempo. Inspirados pelo Espírito Santo, passaram a fazer visitas a presidiários e também a pessoas enfermas e necessitadas, sempre levando uma palavra de esperança e amor da parte de Deus. Além de tudo, Jonh Wesley e seus companheiros tinham como obrigação terem um testemunho fiel da fé cristã, conforme as regras da Igreja Anglicana. Eram rígidos e regulares em suas expressões religiosas. Entretanto, como qualquer pessoa que opta por uma vida de santidade, aqueles amigos foram alvos de zombarias. Os universitários, vendo o empenho e compromisso daquele grupo com Deus, apelidaram-nos de “Clube Santo”, ridicularizando as atitudes por busca de santidade. E ainda, como o grupo possuía horário e método para tudo que faziam, foram apelidados de “metodistas”.

Bem, por mais que, inicialmente, o nome “Clube Santo” tenha sido usado pelos universitários de Oxford como algo pejorativo, ali estava se iniciando um verdadeiro CLUBE SANTO, isto é, um grupo de amigos e irmãos em Cristo, liderados por John e Charles Wesley, que se reuniam constantemente com o desejo de orar e estudar a Bíblia, optando por viver uma vida de santidade. Seus integrantes estavam inseridos num contexto universitário de imoralidade social, porém viviam diferente e faziam a diferença. A prioridade deles era buscar a Deus, viver seus princípios e ensinamentos, entender e aplicar a Sua Palavra e testemunhar com atitudes e palavras o amor, a esperança e o poder transformador de Deus. Criam nas promessas de Deus e entendiam que o Senhor tinha grandes feitos a realizar na vida deles e através da vida deles. Esse era o CLUBE SANTO que, entre os integrantes, além dos irmãos Wesley, estava também George Whitefield, que posteriormente se tornaria um grande e revolucionário pregador do Evangelho. (2).

Jônatas Edwards (1703 a 1758) dele se escreve: “... entre os homens, era o vulto maior nesse avivamento, que se intitulava O grande despertamento. Sua vida é um exemplo destacado de consagração ao Senhor para o desenvolvimento maior do intelecto e, sem qualquer interesse próprio, de deixar o Espírito Santo usar o mesmo intelecto como instrumento nas suas mãos. Amava a Deus, não somente de coração e alma, mas também de todo o entendimento. ‘Sua mente prodigiosa apoderava-se das verdades mais profundas’. Contudo, ‘sua alma era, de fato, um santuário do Espírito Santo’. Sob aparente calma exterior, ardia nele o fogo divino, como um vulcão”. (3). E ainda: “Jônatas Edwards costumava passar treze horas, todos os dias, estudando e orando. Sua esposa, também, diariamente o acompanhava na oração [...] Assim diz um de seus biógrafos: ‘Em todo o mundo onde se falava o inglês, era considerado o maior erudito desde os dias do apóstolo Paulo ou de Agostinho’. Para nós, a vida de Jônatas Edwards é uma das muitas provas de que Deus não quer que desprezemos as faculdades intelectuais que Ele nos concede, mas que as desenvolvamos, sob a direção do Espírito Santo, e que as entreguemos desinteressadamente para o seu uso”. (4). “foi pregador congregacional, teólogo calvinista e missionário aos índios americanos, e é considerado um dos maiores filósofos norte-americanos”. (5).

2) O QUE MACULOU A TEOLOGIA?
A teologia foi maculada pelo surgimento do "liberalismo teológico" (6) e o "neoliberalismo teológico" (7), onde seus proponentes resolveram desconstruir a fé cristã. Personagens como o teólogo alemão Frederich Schleiermacher (1768 a 1834) trataram de fazer o serviço de implosão dos alicerces do cristianismo. Dele se escreve: "Negava [...] autoridade e igualmente a historicidade dos milagres de Cristo. Ele não deixou uma só doutrina bíblica sem contestação. Para ele, o que valia era o sentimento humano: se a pessoa "sentia" a comunhão com Deus, ela estaria salva, mesmo sem crer no Evangelho de Cristo". (8). "Rudolf Karl Bultmann (1884 a 1976), desenvolvedor da teologia do mito. Ele dizia o que você tem nos evangelhos não é o Jesus histórico, mas o Jesus da fé da Igreja. Segundo ele o Jesus da fé da Igreja é uma mitologia criada pelos discípulos de Jesus" (9). “Apesar de acreditar que existiu um Jesus da história, ele nega claramente a historicidade da ressurreição. Ele afirma que a ressurreição "não é um evento da história passada... um fato histórico que envolva a ressurreição de mortos é totalmente inconcebível". Para Bultmann, “é impossível acreditar-se num evento mítico como a ressurreição de um cadáver, pois é isso o que a ressurreição significa”. Portanto, para ele, "Se o evento do domingo de Páscoa for em qualquer sentido um evento histórico adicional ao evento da Cruz, não é nada mais do que o surgimento da fé no Senhor ressurreto...”. (10). Karl Barth (1886 a 1968), um teólogo que parecia um apologista cristão contra o liberalismo teológico, mas na verdade suas “refutações” dissolveram-se em mera diplomacia. Em sua famosa obra “Carta aos Romanos”, Barth manifestou a sua negação ao liberalismo teológico, mas também sua repulsa a ortodoxia (11), pois não foi enfático quanto à ressurreição histórica de Jesus: "Deixou para trás a morte! ‘Ressuscitado de entre os mortos, ele já não morre mais’. Precisamente porque a sua ressurreição não é um acontecimento histórico, não é material”. (12). E também disse: “a ressurreição toca a história como uma tangente toca um círculo, isto é, sem realmente tocá-lo” (13). O mesmo desacreditava na inerrância da Bíblia: "De capa a capa palavras humanas e falíveis [...] Segundo o testemunho das Escrituras sobre os homens, que também se refere a eles (isto é, aos profetas e apóstolos), eles podiam errar, e também têm errado, em toda palavra [...] mas precisamente com essa palavra humana falível e errada pronunciaram a palavra de Deus". (14).  Emil Brunner (1889 a 1966) foi outro teólogo que tentou "combater" o liberalismo teológico, mas não comungava com a ortodoxia, e negava a inerrância da Bíblia, disse: "... A Palavra de Deus na Escritura é muito pouca coisa para ser velada. A Palavra de Deus na Escritura é muito pouca para ser identificada com o Cristo segundo o Espírito. As palavras das Escrituras são humanas, isto é, Deus fez uso de humanos, e, portanto, frágeis e falíveis palavras de homens que estão sujeitos a errar. Mas os homens e suas palavras são os meios através dos quais Deus fala aos homens e no homem. Somente através de um sério equívoco a fé genuína encontrará satisfação na teoria da inspiração verbal da Bíblia". (15). Ele também tinha dificuldades em crer na ressurreição de Jesus: "ressurreição do corpo, sim; ressurreição da carne, não! A ressurreição do corpo não significa a identidade do corpo da ressurreição com o corpo de carne e ossos, apesar de já transformado; mas, a ressurreição do corpo significa a continuidade da personalidade individual desse lado e no outro lado, a morte". (16). Paul Tillich (1886 a 1965) dele se diz: "Em sua cristologia, ele define Jesus como o símbolo no qual se supera a alienação, em que se rompe a distância. Cristo é o símbolo do ‘Novo Ser’, no qual se dissolve toda alienação que tenta diluir a unidade do homem com Deus. A palavra ‘símbolo’ é resultado do repúdio de Tillich por qualquer interpretação ortodoxa acerca da pessoa e da obra de Cristo. Segundo ele, a afirmação ‘Deus se fez homem’ é uma afirmação não apenas paradoxal, mas também sem sentido. O relato da crucificação é mencionado como lendário e contraditório. A ressurreição, segundo ele, significa simplesmente que Jesus foi restituído à sua dignidade na mente dos discípulos". (17).

Enfim, o que vemos acima são relatos tristes do que fizeram com a teologia. Por isso que muitos cristãos têm uma repulsa pela teologia, pois ficou associada à eles. Pessoas cujas obras produziram milhares de seguidores que hoje estão disseminando suas heresias destruidoras em Escolas Bíblicas nas igrejas e nos seminários teológicos.

3) OS TEÓLOGOS DO SÉCULO XX FORAM TODOS ASSIM?
Nem todos foram como os nomes supracitados, podemos aqui colocar o nome de C. S. Lewis (1898 a 1963), este sim, foi um verdadeiro apologista cristão, embora não citado como teólogo, relata-se que “foi um professor universitário, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e apologista cristão britânico. Durante sua carreira acadêmica, foi professor e membro do Magdalen College, tanto da Universidade de Oxford como da Universidade de Cambridge. Ele é mais conhecido por seus trabalhos envolvendo a apologia cristã, incluindo as obras O Problema do Sofrimento (1940), Milagres (1947) e Cristianismo Puro e Simples (1952), e a ficção e a fantasia, sendo as obras As Crônicas de Nárnia (1950-56), Cartas de um diabo ao seu aprendiz (1942) e Trilogia Espacial (1938-45), exemplos de sua produção literária voltadas para esses temas. Foi também um respeitado estudioso da literatura medieval e renascentista, tendo produzido alguns dos mais renomados trabalhos acadêmicos envolvendo esses temas no século XX”. (18) Enquanto Lewis se divorciava de um mundo cético, ateísta, influenciado pelo iluminismo, aqueles citados acima estavam se envolvendo. Sem dúvidas Lewis conhecia e por conhecer repugnava aos assédios de sua época. “Lewis foi ateu durante metade de sua vida e, portanto, conhecia o tipo de argumento que os céticos modernos mais precisavam ouvir”. (19). “Em vez de apresentar teorias novas e exóticas sobre Jesus, a respeito das Escrituras ou acerca das doutrinas da Igreja, Lewis se concentrava em reformular as afirmações tradicionais do cristianismo de uma forma renovada e imparcial”. (20).

Lewis não foi o único, surgiu nos Estados Unidos o movimento conhecido como “Fundamentalismo”. Onde vários teólogos presbiterianos no final do século XIX e posteriormente se espalhou entre os batistas e outras denominações por volta de 1910-1920. A primeira formulação das crenças do fundamentalismo se solidificou com a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana em 1910 que foram conhecidas como “os cinco fundamentos”, uma resposta apologética ao mundo moderno, ao liberalismo e neoliberalismo teológico:
  • A inspiração da Bíblia pelo Espírito Santo e a inerrância das Escrituras como resultado disto.
  • O nascimento virginal de Cristo.
  • A crença de que a morte de Cristo foi a redenção para o pecado.
  • A Ressurreição de Jesus.
  • A realidade histórica dos milagres de Jesus. (21).

4) O QUE HOUVE NO MUNDO PARA QUE ALGUNS TEÓLOGOS DO SÉCULO XX ANARQUIZASSEM A TEOLOGIA E MUITOS ATUAIS DO SÉCULO XXI DÃO CONTINUIDADE?
Muitas transformações ocorreram no mundo em virtude do iluminismo e seus efeitos pós-iluminismo. Uma delas foi Deus ser retirado do centro do universo e o homem tomar o lugar. O Iluminismo lutou para separar a fé da razão, não vou entrar aqui no mérito da questão, só sei que nesta luta surgiram homens ardilosos que foram destaque neste campo de batalha, tornaram-se pais fundadores do mundo moderno, se resumem em: “Hume [David 1711 a 1776] limitava o conhecimento à observação empírica, incentivando seus herdeiros filosóficos a ignorarem assuntos espirituais, sobre os quais nada seria possível saber. Kant [Immanuel 1724 a 1804] fundamentou a moralidade no imperativo categórico em lugar dos Dez Mandamentos; fornecendo à ética humana, assim, uma base racional, em oposição ao sobrenatural. Darwin [Charles 1809 a 1882] propôs a seleção natural, um método pelo qual nosso corpo poderia ter se desenvolvido sem a intervenção divina. Freud [Sigmund 1856 a 1939] veio em seguida, fazendo o mesmo com a consciência humana, o qual ele considerava como tendo surgido de uma inconsciência profunda e material, em vez de proceder do grande EU SOU. Marx [Karl 1818 a 1883] reduziu a filosofia, teologia e a estética a forças econômicas, argumentando que a religião, as artes e até mesmo a própria consciência eram meros produtos de forças materiais socioeconômicas, sobre as quais não temos qualquer controle. Nietzsche [Friedrich 1844 a 1900] anulou a Teoria das Formas, que fora elaborada por Platão, argumentando que a beleza, a verdade e a justiça não são critérios divinos, mas produtos criados pelo homem, alterados sempre que a estrutura de poder da sociedade muda. Saussure [Ferdinand 1857 a 1913] despojou a linguagem de seu estado transcendente, concedido por Deus, tornado-a também um produto de forças estruturais profundas que controlam nossas palavras e nossos pensamentos. E a lista continua”. (22).

Assim, diante destas profundas transformações na vida da sociedade provocadas por estes homens, alguns teólogos e líderes eclesiásticos preferiram e tem preferido mesclar a fé cristã com os pensamentos destes homens buscando manter seu status quo. Eles se esqueceram das palavras do apóstolo Paulo quando disse: “E não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Rm.12.2). E também da advertência de Tiago: “Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, quem quiser ser amigo do mundo se coloca na posição de inimigo de Deus”. (Tg.4.4).

5) EXISTE UM SEMINÁRIO TEOLÓGICO QUE UM CRISTÃO POSSA ENTRAR E SAIR SEM PERDER A FÉ?
Atualmente, há uma cumplicidade de muitos seminários ou faculdades teológicas com o neoliberalismo teológico (ou neo-ortodoxia). Eu não vou perder meu tempo aqui apontando as escolas que aderiram tal teologia, pois são fáceis de serem identificadas:

a) Por seu corpo docente de professores; 
b) Pela grade de disciplinas; 
c) Por serem reconhecidas pelo MEC – Ministério da Educação (Brasil).

O que precisamos dizer para os cristãos evangélicos/protestantes é que eles procurem faculdades de teologia por vocação e não para obter nível superior escolar. Se for isso que querem, que busquem as faculdades seculares e sigam seus caminhos. Mas, se querem ser obreiros cristãos, gente de frente, pastores, mestres, evangelistas, líderes na igreja local, busquem faculdades ou seminários teológicos de “curso livre” ou “eclesiásticos”. Agora, se desejam obter mais do que o bacharelado, como mestrado, doutorado, devem estar bem preparados e fundamentados na ortodoxia cristã, pois uma boa parte das faculdades que oferecem estas graduações são ligadas ao MEC, sendo, portanto sujeitas ao pensamento pós-moderno, ao liberalismo e neoliberalismo teológico.

Existem seminários pelo Brasil de linha conservadora, com herança do fundamentalismo. Não vou colocar a “mão no fogo” aqui citando nomes, entretanto posso garantir que existem sim seminários, faculdades de teologia que ainda preservam uma teologia sadia. Basta uma boa entrevista com a secretaria ou diretoria da escola desejada para que se possa discernir sua posição teológica. Uma pesquisa em seus sites, web pages ou fan pages vão auxiliá-lo na seleção de um bom seminário teológico.

6) O QUE PODEMOS FAZER PARA QUE A TEOLOGIA VENHA A SER SADIA E QUERIDA PELA IGREJA?
Este papel cabe primeiramente aos diretores das faculdades teológicas. Retirando totalmente do corpo docente de professores, os simpatizantes do liberalismo e neoliberalismo teológico. Decidindo manter suas escolas no nível de “curso livre” ou “eclesiológico” buscando servir e cooperar junto a Igreja. Do contrário, continuaremos formando pastores e mestres que repercutirão este repúdio da igreja pela teologia. Cabe aos pastores e mestres da igreja a se desintoxicarem destas más influências e ministrarem ao povo leigo se exemplificando em C. S. Lewis. “Diferente da maioria de seus contemporâneos no meio acadêmico, Lewis escrevia em termos pessoais, leigos e que falavam diretamente aos seus leitores. Embora fosse um dos homens mais instruídos de sua época, ele queria ser compreendido”. (23). O púlpito de uma igreja local não é um lugar onde só tem um público acadêmico. Geralmente o público é diversificado. E não ser compreendido deve ser um dos piores pesadelos de quem ministra e ensina. Eu sempre digo aos meus alunos e irmãos na fé que “ensinar não é usar termos teológicos e acadêmicos, mas fazer as pessoas compreenderem o que você está ensinando”. E por fim, cabe ao povo cristão no geral, a serem cristãos autodidatas, que busquem ler e estudar a Palavra de Deus, lendo literaturas cristãs sadias que mantenham os cinco pontos do fundamentalismo e que sustenham a ortodoxia cristã. Obras que aprofundem seus conhecimentos relacionais e intelectuais com Deus. Jesus Cristo nos disse que o maior de todos os mandamentos é amar a Deus em todos os sentidos: “... Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento”. (Mt.22.37,38 o grifo é meu).

CONCLUSÃO
Todo aquele repúdio de Jesus em Mateus 23.23 e seguinte, em que falamos no princípio, contra os fariseus, escribas e doutores da lei não foi contra a doutrina ou ao conhecimento que tinham sobre Deus, mas contra a incoerência deles.  É um texto citado fora do contexto. Vejamos um comentário bíblico sobre esse discurso de Jesus: “O quarto ‘ai’ descreve o cuidado escrupuloso dos fariseus nas questões menos importantes e a sua negligência nos deveres mais importantes. O dízimo das diversas ervas baseava-se em Lv. 27:30. Hortelã, endro, e cominho eram plantas de hortas, usadas para temperar alimentos. Justiça, misericórdia e fé. Essas obrigações éticas e espirituais (cf. Mq. 6:8) são o mais importante da lei e são portanto de importância primária, embora aquelas (o dízimo) também são próprias do povo de Deus. Através de tal prática os fariseus tinham escrupulosamente coado o mosquito (inseto leviticamente imundo que poderia cair no copo), mas engoliam um camelo (o maior dos animais imundos da Palestina; Lv. 11:4). O quinto ‘ai’ descreve a deslocada ênfase dos fariseus sobre as coisas externas. Limpais o exterior do copo. A figura aponta para a preocupação dos fariseus com a purificação ritualística (rabínica, não de Moisés) e a negligência com o conteúdo do copo. Mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança. Os fariseus sustentavam seu modo de vida pressionando os outros. Obediência ao ritual rabínico não poderia alterar esta corrupção interior. O sexto ‘ai’ descreve a influência secreta dos fariseus. Sepulcros caiados. Na primavera, após a estação das chuvas, as sepulturas eram caiadas para que uma pessoa desavisada não se contaminasse cerimonialmente tocando-as por descuido. (Nm. 19:16; conf. Ez. 39:15). Esse costume há pouco cumprido forneceu uma ilustração oportuno da aparência atraente dos fariseus, mas corrupção interna. [...] O sétimo "ai" descreve os ouvintes do Senhor como participantes da mesma natureza de seus perversos antepassados. Construindo e embelezando sepulturas de profetas assassinados, supunham que estivessem desautorizando esses homicídios. Mas Jesus declarou que seus atos provavam exatamente o oposto. Pois, construindo sepulturas, eles apenas completavam o que seus pais (espirituais, como também raciais) tinham começado. Sua própria conspiração de matar Jesus (21:46; 22:15; Jo. 11:47-53) provou serem filhos dos que mataram os profetas”. (24).

O mesmo ocorre com a expressão de Paulo: “a letra mata” (em 2Co.3.6). Onde a passagem se refere ao decálogo (v.7). Por ser este condenatório aos que não cumprem. Enquanto que “o espírito vivifica” retrata da obra perfeita da graça divina na vida do pecador por meio do Espírito Santo obtida na justificação em Cristo por meio da fé (v.8). Colin Kruse comenta: “neste capítulo o que Paulo faz é um contraste entre a lei de Moisés (gravada “com letras em pedras”, v. 7) e o Espírito Santo (v. 8), como sendo as principais características pelas quais os ministérios sob a antiga e a nova aliança deveria ser distinguidos”. (25).

Portanto, o conhecimento teológico sadio, o conhecimento da Palavra de Deus jamais vai matar alguém. Pelo contrário, o testemunho das Escrituras ventilam qualquer argumento oposto: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz...”. (Hb.4.12). “Fostes regenerados não de semente perecível, mas imperecível, pela palavra de Deus, que vive e permanece”. (1Pe.1.23). “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”. (2Tm.3.16). As Escrituras relatam que o ministério dos apóstolos era o da oração e da Palavra: “Mas nós nos devotaremos à oração e ao ministério da palavra”. (At.6.4). Jamais a Palavra de Deus e seus ensinos poderiam levar um cristão à morte espiritual, todavia o despreparo destes cristãos e a ida para um seminário que dissemina o liberalismo e o neoliberalismo teológico, não se firmando antes nos cinco pontos do fundamentalismo, nem na ortodoxia cristã, negligenciando a vida devocional, com certeza ele vai balançar na fé e talvez até apostatar. (Leia Provérbios 2.1-22).

Tem muitos colegas de teologia que dizem pra mim: “rapaz… teologia é pra nós, não se leva para a igreja local”. No meu ponto de vista um teólogo tem duas posturas com o público leigo: a de um clérigo da idade média que via o povo como um bando de brutos e, por isso, a teologia não devia ser ministrada; ou a de um pastor que vê o povo como ovelhas que precisam do melhor pasto. Eu prefiro ficar com a segunda postura.

Referências:

(1)  Orlando Boyer: Heróis da Fé. Editora CPAD. p.69,70.

(2) Relacionamento em Santidade: http://relacionamentoemsantidade.com.br/artigos/o-clube-santo acessado em 07/07/16.

(3)  Orlando Boyer: Heróis da Fé. Editora CPAD, p.51.

(4)  Idem p.55, 58.

(5)  Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jonathan_Edwards_(teólogo) acessado em 07/07/16.

(6) Foi um movimento teológico cuja produção se deu entre o final do século XVIII e o início do século XX. Relativizando a autoridade da Bíblia, o liberalismo teológico estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a filosofia e as ciências da religião. Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_liberal acessado em 27/06/16.

(7) O rótulo “neoliberalismo” tem sido aplicado ao movimento teológico-hermenêutico que preserva alguns pressupostos racionalistas do antigo liberalismo e se utiliza de conceitos da filosofia, da hermenêutica, da linguística e da teologia pós-modernas. Augustus Nicodemus: http://www.icp.com.br/86materia2.asp acessado em 27/06/16. O neoliberalismo teológico foi uma tentativa fracassada de frear o liberalismo teológico. Uma saída diplomática do seu extremismo, uma falsa apologia da ortodoxia. Conhecida também como Teologia Contemporânea ou Neo-ortodoxia. Fonte recomendada: Neo-ortodoxia ou neoliberalismo teológico: um outro evangelho: http://novomanifestoreformado.blogspot.com.br/2013/12/neo-ortodoxia-ou-neoliberalismo.html acessada em 27/06/2016.

(8)  Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_liberal acessado em 27/06/16.

(9)  Augustus Nicodemus: Hermenêuticas Pós-Modernas, trecho de: http://vimeo.com/10002568 acessado em 04/07/16.

(10)  Augustus Nicodemus: A Neo-ortodoxia e a Ressurreição de Jesus. http://tempora-mores.blogspot.com.br/2006/06/neo-ortodoxia-e-ressurreio-de-jesus.html acessado em 05/07/16.

(11) Ortodoxia: Sã doutrina, doutrina dos apóstolos, literalmente que dizer “entendimento ou pensamento correto”, preservada nos credos: Apostólico, Niceno, Atanasiano e Calcedoniano. Desenvolvida na Teologia Sistemática. Por meio da Hermenêutica gramatical, teológica e histórico/cultural. Por base na exegese bíblica com o uso dos manuscritos hebraicos e gregos, com auxílios dos léxicos. Fortalecida nos cinco pilares da reforma protestante: Sola Gratia, Sola Scriptura, Sola Fide, Solus Christus e Soli Deo Gloria.

(12)  Karl Barth: Carta aos Romanos. Fonte Editorial. 2008 p.314.

(13)  Augustus Nicodemus: O que estão fazendo com a igreja. Editora Mundo Cristão, p.120.

(14)  Karl Barth: A Palavra de Deus como Critério para a Dogmática, 1932 p.558. A Revelação de Deus, a Sagrada Escritura, o Anúncio da Igreja, 1938 p.588. Citado também por Raimundo de Oliveira: Seitas e Heresias. Editora CPAD, p.132, 133.

(15)  Comunidade Wesleyana, A Teologia do Século XX: Emil Brunner: http://comunidadewesleyana.blogspot.com.br/2011/05/teologia-do-seculo-xx-emil-brunner.html acessado em 06/07/16.

(16)  Emil Brunner: The Christian Doctrine od Creation and Redemption, 1952, p. 372.

(17)  Leonardo Gonçalves. Compilação da obra de Harvie M. Conn, Teologia Contemporânea: https://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/teologia-do-ser-paul-tillich-e-a-fronteira-entre-o-liberalismo-racionalista-e-a-teologia-existencialista/ acessado em 04/07/16.

(18)  Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Clive_Staples_Lewis acessado em 06/07/16.

(19)  Louis Markos: Apologética Cristã para o Século XXI, Editora Central Gospel p.25.

(20)  Idem p.26.

(21)  Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo acessado em 06/07/16.

(22)  Louis Markos: Apologética Cristã para o Século XXI, Editora Central Gospel p.23,24.

(23)  Louis Markos: Apologética Cristã para o Século XXI, Editora Central Gospel p.26.

(24)  Comentário Bíblico de Moody, p.113, 114. Moody Bible Institute of Chicago.

(25)  Colin Kruse: 2Coríntios, Introdução e Comentário, Editora Vida Nova, p.99.

Bíblia citada e utilizada: Almeida XXI.


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